Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.
Nossos pecados são tão numerosos e tão graves, nossas reparações tão leves, que dificilmente pagaríamos neste mundo a pena temporal devida por nossas iniquidades, se a Igreja não suprisse à nossa fragilidade abrindo o tesouro das indulgências. Tesouro imenso, inesgotável, que consiste dos méritos superabundantes de Nosso Senhor Jesus Cristo, da bem-aventurada Virgem e dos Santos. A chave desse tesouro foi confiada ao soberano Pontífice. Após a Santa Missa e a Santa Comunhão, não há nada de mais admirável, de mais rico, seja para os vivos ou para os mortos. É, pode-se dizer, o último esforço da misericórdia divina para a salvação das almas. Pelas indulgências que são numerosas, fáceis de se obter, e que estão ao alcance de todos, temos os meios de contentar a justiça divina, de resgatar umas almas que nos são caras e que expiam nas chamas as faltas e os erros de suas vidas passadas. Podemos considerar esse número de indulgências que a Igreja nos dá com tanta liberalidade como uma chuva maravilhosa que traz refresco aos que têm sede, consolação aos que choram e a felicidade aos cativos. Que invenção admirável do Pai! Que tesouro!
Apressemo-nos, portanto, alma cristã, em adquirir essas riquezas espirituais, mais preciosas que o ouro, mais abundantes e mais acessíveis do que nunca. Procuremos obter muitas indulgências e procuremos obtê-las frequentemente! Como é animador saber que podemos aplicá-las ao pai, à mãe, a um irmão, à alma mais abandonada ou à alma que mais sofre! Elas serão um auxílio para aqueles que amamos! Um socorro para aqueles por quem choramos!
Trés condições são necessárias para ganhar as indulgências. Primeiramente, é preciso estar em estado de graça. Deus quer que, antes de socorrer os outros, nós fechemos primeiro o inferno sob nossos pés. Do contrário, todas as obras feitas em estado de pecado mortal são obras mortas e desprovida de méritos. Em segundo lugar, é preciso ter a intenção, pelo menos de modo geral, de ganhar a indulgência. É, portanto, apropriado renovar a cada dia, na oração da manhã, o desejo de ganhar as indulgências ligadas às práticas de piedade que se podem fazer durante o dia. Em terceiro lugar, enfim, é preciso cumprir integralmente as obras prescritas. Estas são, normalmente, alguns atos muito fáceis de se realizar, que não tomam muito tempo e que estão ao alcance de todos os fiéis: uma oração curta, uma pequena esmola, uma mortificação, uma comunhão…
Por favor, alma cristã, não negligencieis providenciar para os fiéis falecidos tesouros tão fáceis de se conseguir. Seria vossa despreocupação desculpável? Ainda mais nestes tempos em que as indulgência que lhe são aplicáveis estão tão multiplicadas e ao alcance de todos? Sim, depende de vós vir em auxílio aos vosso irmãos sofredores, e vos custa pouco. Se ganhais por eles uma indulgência parcial, abreviareis o tempo de sua expiação. Se tiverdes a felicidade de obter uma indulgência plenária, a alma à qual a aplicardes ficará provavelmente liberta de toda a sua dívida. O Céu abrir-se-á para ela, e ela voará para lá radiante, levando aos pés do Senhor a gratidão que eternamente consagra ao seu benfeitor. Meu filho — dizia São Luís, no fim do seu testamento, como última recomendação — lembrai-vos de ganhar as indulgências da Igreja.
Um pregador da ordem de São Francisco acabara de fazer um eloquente sermão sobre a esmola, e havia concedido aos seus ouvintes dez dias de indulgências, segundo o poder que havia recebido do soberano Pontífice, quando uma dama da nobreza, que não tinha conservado de sua antiga classe senão o temor de evitar sua presente miséria, veio falar-lhe em segredo. O bom padre deu-lhe a mesma reposta que outrora são Pedro deu ao coxo de Jerusalém: Não tenho nem prata, nem ouro; mas o que tenho, eu vos dou. E continuou: Renovo-vos a garantia de que ganhastes dez dias de indulgências assistindo à minha pregação esta manhã. Ide, pois, a tal banqueiro, o qual até agora pouco se preocupou com os tesouros espirituais, e oferecei-lhe, em troca da esmola que vos fizer, ceder-lhe o vosso mérito, a fim de que as penas que o aguardam no Purgatório sejam diminuídas. Tenho todas as razões para crer que ele vos dará algum socorro. A pobre mulher procurou o banqueiro com toda simplicidade e muita boa fé. Deus permitiu que esse homem a acolhesse com bondade. Ele perguntou quanto ela pretendia receber em troca desses dez dias de indulgência. Ela respondeu: O quanto elas pesarem na balança. — Pois bem, eis a balança! Escrevei sobre um pedaço de papel vossos dez dias e colocai num dos pratos; eu coloco sobre o outro uma moeda. Prodígio! O primeiro prato não subiu, mas ao contrário subiu aquele com o dinheiro. Espantado o banqueiro colocou mais uma moeda, que não mudou em nada o peso. Ele colocou cinco, dez, trinta, cem, o tanto quanto precisava a senhora em sua presente necessidade. Só então os dois pratos se equilibraram. Esta foi uma lição preciosa para o banqueiro: ele percebeu, enfim, o valor dos interesses celestes. Mas as pobres almas compreendem isso muito melhor: pela mais leve indulgência, elas dariam todo o ouro do mundo! A nós cabe fazer o possível para conseguir-lhes o máximo possível de indulgências.
Oremos. Vós conheceis minha indigência, ó meu Jesus! E no excesso de vossa misericórdia quisestes que eu encontrasse no tesouro de vossos méritos e de vossas satisfações o meio de suprir a tudo que me falta. Cada dia virei buscar, neste tesouro sempre aberto, preciosas indulgências que quitarão a dívida dos meus irmãos falecidos. Ó Jesus, sede-lhes propício! Que descansem em paz!
Requiescant in pace!
Em seguida, reze cada dia: