Vigésimo terceiro dia — Quarto modo de aliviar as almas do Purgatório: o Santo Sacrifício da Missa

Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.

É oferecido por Jesus Cristo

De todos os modos que nós temos indicado até agora para aliviar as almas do Purgatório, nenhum é mais poderoso e nem mais eficaz que o Santo Sacrifício da Missa: é um artigo muito consolador da nossa fé. A razão disso é que toda a eficácia do divino sacrifício vem do fato de que ele é oferecido na pessoa e no nome de Jesus Cristo. No altar tem-se, como no Calvário, a mesma vítima, o mesmo sacerdote e, por consequência, a mesma eficácia. Ali, Jesus oferece a seu Pai tudo o que ele é e tudo o que ele tem. Ele oferece toda a Igreja militante e toda a Igreja padecente. Ó, que alegria neste reino de lágrimas, que alegria para estas almas vítimas da justiça divina, quando Jesus de algum modo as abraça e as oferece todas a seu Pai! E o Pai recebe a oblação do Filho. Por entre as chamas expiatórias, Ele reconhece os traços desse Filho adorável, que as almas carregam mesmo em sua desgraça, e Ele concede o perdão em consideração dos méritos desse Cordeiro sem mancha. Como é possível que em um momento tão solene não sejam libertadas todas essas almas? Não sabemos, não podemos perscrutar os segredos da infinita justiça e santidade de Deus, mas é certo que todas são aliviadas. Um santo doutor afirma que, após cada missa, todos os dias, muitos cativos saem do Purgatório e voam em direção ao Paraíso. Em Roma, em um mosteiro, podemos apreciar uma pintura que representa São Bernardo celebrando a missa, e as almas que saem do Purgatório e sobem ao Céu. Como é belo! E como podemos pensar tão pouco nessas grandes maravilhas?

A maior parte das famílias cristãs, faz celebrar um serviço solene pelos pais e amigos defuntos, não somente por ocasião da morte, mas ao fim de cada ano. Tendes cumprido esse piedoso dever, alma cristã? Mandastes celebrar a missa de aniversário de morte de vosso pai, de vossa mãe, de vossos irmãos?

Nós o oferecemos com Ele

Se vossos recursos não vos permitem fazer celebrar frequentemente o santo sacrifício em nome dos falecidos, não vos esqueçais, almas cristãs, que podeis oferecer vós mesmas, de uma certa maneira, ao assistir a missa com devoção, unindo vossas orações àquelas do padre, àquelas de Nosso Senhor. Sim, quando estais ali, junto ao altar, vós dispondes dos méritos do Cordeiro sem mancha; podeis aplicá-los a todos aqueles que vos são queridos e, tal como Maria e José dirigiam os atos e os passos do Menino Deus, vós exerceis uma autoridade sobre Jesus eucarístico: vós vos tornais o senhor, o distribuidor dos seus méritos. Podeis, portanto, tomar o seu divino Sangue e derramá-lo abundantemente sobre as almas benditas do Purgatório. Podeis aplicar-lhes o fruto do sacrifício, e também a parte que vos cabe por direito, de todas as missas que se celebram no mundo inteiro. Trata-se de um tesouro imenso no qual não pensamos o suficiente; um tesouro com o qual podemos pagar o resgate dos nossos pais e dos nossos amigos que gemem no triste lugar do cativeiro e abrir-lhes a porta do Céu.

Ah! Como seríamos culpados de negligenciar um meio tão fácil e tão eficaz de colocar um fim aos tormentos dessas queridas almas que nos pedem, pelas entranhas do Salvador, que pensemos frequentemente nelas durante o Santo Sacrifício.

Exemplo

O santo Cura d’Ars contava um dia, no seu catecismo, aos seus paroquianos, a seguinte história.

Meus filhos, um bom sacerdote tivera a infelicidade de perder um amigo a quem estimava ternamente; por isso, rezava muito pelo repouso de sua alma. Um dia, Deus fez-lhe saber que ele estava no Purgatório e que sofria ali horrivelmente. Esse santo sacerdote não julgou poder fazer nada melhor do que oferecer o santo Sacrifício da Missa pelo seu querido amigo falecido. Quando chegou o momento da consagração, tomou a Hóstia entre os dedos e disse: Pai santo e eterno, façamos uma troca. Vós tendes a alma do meu amigo que está no Purgatório, e eu tenho o Corpo do Vosso Filho que está entre as minhas mãos. Pois bem, Pai bom e misericordioso, libertai o meu amigo, e eu Vos ofereço o Vosso Filho com todos os méritos da sua morte e da sua Paixão. O seu pedido foi atendido. Com efeito, no momento da ação de graças, viu a alma do seu amigo, toda radiante de glória, subir ao Céu. Deus aceitara a troca. Pois bem, meus filhos, acrescentava o Cura d’Ars, quando queremos livrar do Purgatório uma alma que nos é cara, façamos o mesmo. Ofereçamos a Deus, pelo santo Sacrifício, o Seu Filho bem-amado com todos os méritos da Sua morte e da Sua Paixão; Ele nada nos poderá recusar.

Sigamos, alma cristã, o conselho do santo Cura d’Ars. Façamos oferecer o santo Sacrifício da Missa pelos nossos parentes defuntos e eles serão aliviados, libertados.

Oremos. Por mais culpadas que vos pareçam as almas do Purgatório, Vós Vos deixareis apaziguar, ó Deus de misericórdia, e Vós os perdoareis ao ver o precioso Sangue de Vosso Filho derramado cada dia sobre o altar, para os lavar de suas impurezas. Sim, escutareis a vóz desse Sangue adorável, que não grita para pedir vingança, mas graça e misericórdia. Ó Jesus, Cordeiro sem mancha, que tirais o pecado do mundo, sede propício aos meus irmãos falecidos. Que eles sejam libertados da prisão e que repousem em paz diante de Vós!

Requiescant in pace!

Orações

Em seguida, reze cada dia: