Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.
Após termos considerado, nos capítulos anteriores, quais são os motivos que nos compelem a aliviar as almas do Purgatório, nós vamos agora examinar os meios mais eficazes de ajudá-las. O primeiro desses meios é a oração, e este está ao alcance de todos, dos pobres e dos ricos, dos fracos e dos fortes, das crianças pequenas e dos velhos. Ninguém pode alegar nenhum motivo razoável para desculpar-se por não ter rezado. Vós não quereis castigar vosso corpo com o jejum, não quereis abrir vosso bolso para dar esmolas, rezai então! Rezai frequentemente pelos vossos irmãos falecidos, rezai de manhã, rezai ao anoitecer, rezai durante o dia, rezai também à noite. Quem não pode fazer uma oração para pedir-lhes a redução das penas? Quem não pode encontrar em seu coração uma súplica pelo fim de suas incomparáveis misérias? Seríamos capazes de ver sofrer um amigo, um parente, e sabendo que uma boa oração poderia aliviá-lo e torná-lo feliz, seríamos capazes de não fazê-la? Isso seria o cúmulo da indiferença, isso seria a barbárie. Rezai pelos irmãos infelizes! Não é somente fácil e simples, mas consolador e agradável. É tão doce falar de quem amamos, de se ocupar daqueles que nos são queridos!
Tomai pois a resolução, alma cristã, de não deixar passar um único dia sem rezar pelos vossos parentes queridos que se foram. Oferecei em seu favor toda sorte de dificuldades, sejam as distrações, seja a aridez de vosso coração durante este santo exercício. Ao menos, repeti frequentemente estas curtas invocações: Doce Jesus, sede-lhes propício! Senhor, dai-lhes o repouso eterno! Meu Deus, que repousem em paz!
A oração é a chave de ouro que abre o Céu, diz Santo Agostinho, oratio clavis est cœli. Mais poderosa que todas as coisas, ela salta do coração do homem, se eleva sobre as asas dos anjos, sobe até o trono de Deus, vai direto ao Seu coração, toca-O, enternece-O, silencia a justiça, e deixa apenas o amor falar. Vencido pela oração, a justiça divina cede, se dobra, perdoa. Então, munida do decreto de perdão, a oração desce do trono de Deus em direção ao abismo, e lá infunde essas pobres almas que esperam a hora da libertação, extingue o fogo vingador que as abrasa e, quebrando para sempre as cadeias de sua prisão, leva-as à liberdade e à felicidade. Eis o que consegue a oração para os mortos. Para ela, não há obstáculos, não há distâncias, não há espera: o Céu se abre diante dela, o abismo se fecha atrás dela. Ela obtém tudo, vence tudo. Santo Tomás assegura que Deus acolhe com mais fervor a oração pelos mortos do que as que Lhe dirigimos pelos viventes.
A Igreja consagrou o salmo De Profundis como oração especial para os defuntos, e ela nos incentiva, por seu exemplo, a o recitarmos frequentemente por eles. As palavras desse salmo são, com efeito, muitas vozes que exprimem alternadamente, de maneira viva e tocante, a dor, a resignação, o amor e a esperança das pobres Almas que ardem nas profundezas do abismo. Tomemos a resolução de a recitar frequentemente, ao menos pela manhã e à noite, ao final de nossa oração habitual.
A ponto de expirar, santa Mônica chamou para perto de si seu filho Agostinho: Meu filho, eu morro contente. Obtive de Deus o que desejei durante toda a minha vida. Ó, sim, eu morro contente! Meu filho, meu caro Agostinho, quando eu tiver dado meu último suspiro, não se esqueça de mim em suas preces, não se esqueça no altar daquela que foi duplamente sua mãe. Lembre-se todos os dias da alma de Mônica. Agostinho, emocionado, não pôde responder senão com suas lágrimas, e sua mãe expirou na alegria do Senhor. Durante os vinte anos que ele viveu ainda, não parou de rezar e de celebrar a santa missa pelo repouso daquela que tanto o amou. Ele fez mais: pediu imediatamente a todos os padres de seu conhecimento, e também a todos aqueles que lerão suas obras no decorrer dos séculos, de se lembrarem, no santo altar, de Mônica, sua mãe, a fim de que esta multidão de súplicas lhe abra a porta do Céu.
Alma cristã, a exemplo de Santo Agostinho, rezemos bastante, rezemos sem cessar e sempre pelos nossos queridos falecidos. E se tivermos a infelicidade de perdermos nossa mãe, não a esqueçamos jamais!
Oremos. Senhor Jesus — que dissestes “Pedi e recebereis, procurai e achareis, batei e abrir-se-vos-á.” — eu vos rogo, eu vos imploro, pelas entranhas de vossa divina misericórdia, tende piedade das pobres almas que gemem no Purgatório. Não rejeiteis, ó doce e terno Salvador, minhas orações. Escutai meus lamentos e abri aos meus amigos, aos meus parentes desafortunados, as portas da morada celeste. Que a luz que não se apaga brilhe sobre eles! Que repousem na paz eterna!
Requiescant in pace!
Em seguida, reze cada dia: