Décimo oitavo dia — Terceiro motivo para socorrer as almas do Purgatório: o Amor de Maria

Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.

Ela consola as almas do Purgatório

Maria não se contenta em animar e em consolar seus queridos filhos na terra, ela é também a Consoladora daqueles que a justiça e o amor retêm no lugar de expiação. Que mãe, ao ver seu filho cair sobre um braseiro ardente, e podendo lhe socorrer, não voaria em seu socorro? E Maria, a mais amorosa das mães ficaria insensível às torturas de seus filhos submersos nas chamas expiadoras da divina justiça? Ó não! Mil vezes não! Cheia de compaixão por eles, ela se ocupa sem se cansar de os aliviar. Não á pena alguma nessa escura prisão que ela não diminua. Não há momento algum em que ela não derrama sobre esse fogo vingador uma chuva refrescante. Ó, como Maria é boa, exclama São Vicente Ferrer, para esses desafortunados prisioneiros que gemem no Purgatório! Por seu intermédio, eles são a cada instante aliviados e socorridos. A Santa Virgem diz ela mesma a Santa Brígida: Eu sou a mãe de todos aqueles que estão no Purgatório, e todas as penas que são impostas aos mortos, para a expiação de seus pecados, são iluminadas por minhas preces.

Muito felizes são, portanto, os verdadeiros filhos de Maria, pois sua proteção não os acompanha somente neste mundo, mas ela os procura, para consolá-los, em suas misérias invisíveis, impalpáveis, que poderíamos chamar de misérias do além-túmulo. Como este pensamento é doce e consolador! Ó, como é agradável a esperança de que a boa Virgem nos ajudará durante nossa última hora, e virá nos visitar, nos consolar, se infelizmente cairmos no abismo do Purgatório. Que grande motivo de a amar tremendamente neste mundo! Ó Maria, mãe de misericórdia, consoladora dos aflitos, preservai-nos, livrai-nos do Purgatório.

Ela as liberta

A Santíssima Virgem não se limita a visitar, a aliviar as almas prisioneiras, ela as liberta por sua intercessão. Para apressar o fim de suas penas, ela inspira os viventes a ajudá-los com os sofrimentos, e ela suplica a seu divino Filho para admití-los na morada da paz. E o que Maria pede, ela sempre obtém. Quantas almas esquecidas ou pouco socorridas não permaneceriam alí, gemendo por séculos nesse lugar de indizíveis tormentos, se a bondosa Virgem não apressasse a hora de sua libertação? Quantas voam para o céu sobre as asas de seu amor, sobretudo quando a Igreja celebra suas tocantes solenidades? O douto e piedoso Gerson assegura que, no dia em que ela subiu ao Paraíso, todas as Almas que estavam no Purgatório foram libertadas por sua intercessão. É também uma crença piedosa que todos os sábados e nos dias de suas festas, essa boa mãe desce no lugar da justiça divina, para dali tirar um grande número de prisioneiros a quem ela obteve a graça, feliz de levar seus filhos com ela para associa-los à felicidade de sua família no Céu. Sim, há lá em cima um número incalculável de bem-aventurados que devem sua libertação do Purgatório à augusta Rainha do Céu.

Alma cristã, rezai todos os dias a Maria em favor de vossos queridos falecidos; pedi para eles o seu descanso. Para este fim, oferecei por eles, de tempos em tempos, alguma mortificação, uma comunhão, uma visita à capela onde ela é especialmente honrada. Dizei-lhe frequentemente: boa Mãe, tende piedade de meus irmãos sofredores, procurai-lhes o repouso eterno! Lembrai-vos de que eles são vossos filhos e que vós sois sua mãe!

Exemplo

Uma santa religiosa tinha dado por algum tempo seus cuidados a uma pobre moça, que estava em um estado deplorável tanto na alma quanto no corpo. Após ter levado uma vida escandalosa, Deus a tinha golpeado com uma doença vergonhosa que a tornava um objeto de desgosto e desprezo para todos. A infecção que ela transmitia ao seu redor era tal que suas vizinhas a tinham obrigado a ir buscar abrigo numa velha tapera isolada. Seu caráter era tão intratável, que ninguém lhe teria fornecido nenhum socorro, se nossa religiosa, superando o desgosto que ela lhe inspirava, não tivesse vindo, como um anjo do Céu, trazer-lhe algum conforto que a fizesse suportar sua miserável existência. Todavia, seus serviços não eram pagos senão com injúrias. Quando a irmã lhe falava de Deus, essa miserável criatura não respondia senão com blasfêmias. Um dia, sobreveio-lhe uma crise espantosa, e a infortunada doente morreu quase subitamente. Prestes a aparecer diante do soberano juiz, ela se lembrou das misericórdias de Maria, que ela tinha algumas vezes invocado em sua juventude, e lhe disse: Ó vós que não abandonais aqueles que todos rejeitam, Mãe cheia de ternura, vinde em meu socorro; se vós me desamparais, estou perdida. E Maria veio em socorro da pecadora, lhe inspirou atos de arrependimento e a preservou do inferno. No dia seguinte, encontram o cadáver hediondo estendido no chão, e todos acreditavam que a alma estava perdida. A irmã estava tão convencida disso, que a apagou de sua lembrança. Entretanto, um dia, aquela que ela acreditava condenada lhe apareceu pela permissão de Deus, e lhe disse: Como, vós que rezais por todo o mundo, me esqueceis?Como! exclamou a santa religiosa, vós no purgatório? A pobre pecadora lhe contou o milagre de salvação que se tinha operado nela, em sua agonia, conjurando-a a rezar à santa Virgem para libertá-la do Purgatório como ela a tinha preservado do inferno. A irmã rezou a Maria de todo coração e logo soube, por uma segunda aparição, que suas súplicas foram atendidas e que a boa Mãe tinha aberto a porta do Céu a essa alma penitente. Ó, que boa mãe é Maria!

Oremos. Salve, rainha, mãe de misericórdia! Vida, doçura, e esperança nossa, não somente neste vale de lágrimas, mas também no lugar de expiação, salve! A vós bradamos, ó consoladora dos aflitos! A vós suspiramos, gemendo por nossos irmãos que padecem no Purgatório. Voltai a eles, ó advogada nossa, vossos olhos misericordiosos. Fazei que vejam Jesus, bendito fruto de vosso ventre. É o que pedimos neste instante por eles, ó bondosa rainha, ó piedosa, ó doce Virgem Maria.

Requiescant in pace!

Orações

Em seguida, reze cada dia: