Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.
Considerais que Jesus Cristo tem pelas almas do Purgatório, como por todas as almas resgatadas pelo preço de Seu Sangue, um amor infinito. Cada uma pode repetir como o grande apóstolo: Ele me amou e se entregou por mim. E se há gradações no infinito, Ele deve amá-las mais que nós, porque confirmadas na graça, incapazes de pecar, elas não mais O ofenderão; porque elas sofrem imensamente e com uma resignação perfeita; porque elas O bendizem e O estimam mais ternamente do que nós. Sim, não duvidemos disso, os olhos e o coração do misericordioso Jesus estão para sempre atraídos a esses mártires do além-túmulo, nossos irmãos, os mortos. Longe de os esquecer, de os abandonar em seus sofrimentos, podemos dizer que, de alguma maneira, Ele sofre com eles. Sim, Ele sofre como redentor dessas almas que resgatou por meio de tantos sacrifícios. Sofre também como Pai de filhas tão queridas e como Esposo de esposas tão amadas. Sofre como Cabeça de seu corpo místico que padece. As dores dessas almas, O fazem recordar de Suas próprias dores, e amor que têm atraem Seu próprio amor. Se Ele pudesse morrer novamente, Ele o faria para pagar suas dívidas e abrir-lhes as portas do Paraíso. O que detém a força de Seu amor é a sabedoria e a misericordiosa justiça de um Deus que se opõe à menor das manchas.
Tenhamos, alma cristã, os mesmos sentimentos do coração de Jesus. Como Ele, amemos nossos irmãos da igreja padecente, amemo-los ternamente por causa da sua santidade, por causa do excesso e da duração de seus tormentos. Amemo-los como a nós mesmos, por amor a Deus. Desse modo, compartilharemos de suas tristezas e lhe estenderemos uma mão que os socorre.
Jesus não pode livrar Ele mesmo as almas do Purgatório: a justiça divina o impede; mas do Tabernáculo, onde o amor O torna prisioneiro, ele admoesta todos os fiéis da terra a orar por elas, a fazer descer o refresco e a paz em seu lugar de expiação. Ele disse um dia a santa Gertrudes: Todas as vezes que tu libertas um prisioneiro, isso me alegra como se tivesses me resgatado a mim mesmo da prisão, e eu saberei recompensar-te por isso. No altar onde Ele se oferece, não deseja que Seu sacrifício seja realizado uma só vez sem que o padre e seus assistentes tenham uma lembrança da Igreja padecente: é a memória dos mortos na oração Eucarística. Enfim, Ele reuniu em um único tesouro todos os Seus méritos, todos os de Sua divina Mãe e os dos santos, e Ele pede a todos os fiéis que dele tirem com as mãos cheias, a fim de quitar as dívidas das almas cativas. Tende piedade dessas almas que me são tão caras, exclama Ele. Oh! devolvei-me meus filhos; libertai-os pela oração, pelo santo sacrifício, pelas indulgências. Depressa! Abreviai o momento em que me será dado coroá-los na glória e inundá-los com um torrente de delícias!
Para nos encorajar à caridade, Ele não cessa de repetir aquilo que dizia a Seus discípulos quando falava dos pobres: Tudo o que fizerdes a um desses pequeninos, é a mim que o fazeis. E Ele nos recompensará um dia, como se Ele mesmo tivesse sido libertado. Alma cristã, que grande motivo para nos inflamar de zelo em favor de uma obra tão importante, tão santa, e que nos é tão fácil de realizar! Como somos felizes em poder satisfazer de maneira tão simples os ardentes desejos do Coração de Jesus!
Em uma carta escrita a uma mulher do mundo, o Padre Lacordaire conta que um camponês da Polônia veio a falecer, e que foi colocado pela justiça divina nas chamas expiatórias. Sua piedosa esposa rezava sem cessar pelo repouso de sua alma. Por não acreditar que suas orações fossem eficazes o bastante, ela desejou que se celebrasse o Santo Sacrifício da Missa em honra do Sagrado Coração de Jesus, pela libertação daquele por quem chorava. Infelizmente, ela era pobre e não podia pagar a quantia que era de costume oferecer pela celebração do Ofício Divino. Ela se apresentou diante de um rico cavalheiro, que era filósofo, ateu, e expôs humildemente o objeto de seu pedido. Este se enterneceu e deu-lhe a quantia que ela havia pedido. A viúva, tão logo recebeu o dinheiro, fez celebrar a Santa Missa, na capela do Sagrado Coração, pela libertação de seu querido esposo, e ali tomou a santa comunhão com todo o fervor possível. Que aconteceu? Deus permitiu que, alguns dias mais tarde, o finado camponês aparecesse ao rico bem-feitor: Eu vos agradeço, disse-lhe, da esmola que fizeste pela oferta do divino sacrifício: esta oblação libertou minha alma do Purgatório, onde estava presa, e agora, em agradecimento pela vossa caridade, eu venho da parte do Senhor, anunciar-vos que a vossa morte está próxima, e que deveis reconciliar-vos com Ele. E esse rico incrédulo se converteu, e morreu, com efeito, nos sentimentos mais cristãos. Louvado seja o Sacratíssimo Coração de Jesus!
Oremos. Ó Jesus, cheio de misericórdia, Vós que tanto amastes os homens, que os justificais pela fé e os glorificais pela graça, eu Vos peço, pela ferida de Vosso sagrado lado, aberto pela lança na cruz, livrai os defuntos do fogo do Purgatório e tornai-os dignos da glória de Vossos santos. Sede-lhes propício, ó Jesus! Chamai vossos filhos e nossos irmãos à morada eterna. Que eles descansem em paz!
Requiescant in pace!
Em seguida, reze cada dia: