Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.
O primeiro motivo que deve nos levar a apressar, por todos os meios possíveis, a libertação das santas Almas do Purgatório, é a glória de Deus. Com efeito, nada glorifica mais o Altíssimo, faz bendizer Seu Santo Nome, dilata Seu coração paternal, enfim, nada contribui mais para o cumprimento de Sua vontade adorável, que o alívio dos mortos. Ah! Devemos compreender que, ao lhes abrir o Céu, nós estamos dando a Deus mais vozes para O louvar, mais corações para O amar e bendizer. Nós estamos Lhe dando almas que vão se consumir ao pé do trono de Sua eternidade, nos ardores de um amor tão puro, tão perfeito e tão grande, que não podemos sequer compreendê-lo do lugar do nosso exílio. Não há nada mais agradável ao Senhor, diz santo Agostinho, que o alívio e a libertação dos fiéis falecidos. Acrescenta Bourdaloue: É um apostolado mais belo, maior e mais meritório que a conversão dos pecadores, dos infiéis, dos pagãos.
Apressemo-nos, portanto, para satisfazer aos direitos da justiça divina a adquirir esta glória. Estas almas farão por nós no Céu aquilo que não fazemos senão imperfeitamente neste mundo. Serão vozes puras, angelicais, que cantarão para nós aquele híno nacional que não podemos cantar em terras estrangeiras. É por seus cantos de triunfo que glorificaremos a Deus de toda a glória e de toda a majestade. E este Deus, que prometeu não deixar sem recompensa um copo de água fresca dado a um pobre em Seu nome, cobrirá de generosidade aqueles que se dedicam para Lhe dar almas que O amam tão ternamente.
Saibamos nós que, ao libertar pelo nosso sufrágio essas almas benditas, não somente glorificamos a Deus, mas também alegramos o Céu inteiro. A entrada de um novo eleito naquela bela pátria é uma festa de família para todos os seus ditosos habitantes. Cada um deles dá-lhe as boas vindas e o felicita com uma alegria fraternal. Maria, a mãe de misericórdia, a consoladora da Igreja padecente, estremece de uma santa alegria, une-se a Jesus para depositar sobre sua cabeça a coroa de glória e de imortalidade prometida aos vencedores. Seu anjo da guarda, seu santo padroeiro, o saúdam com uma alegria inefável e o felicitam por sua libertação e sua felicidade. Toda a corte celeste, que se rejubila com a conversão de um pecador, regozija-se ainda mais ao ver aumentar o número dos eleitos; ela entoa novos hinos à glória do Cordeiro divino cuja graça, vitoriosa sobre a fraqueza humana, eleva os filhos de Adão sobre os tronos dos anjos caídos.
Ó alma cristã, apeguemo-nos a uma devoção tão agradável a Deus e a todos os amigos de Deus. Ouçamos com os ouvidos, não mais aos gemidos das almas do Purgatório, mas aos urgentes convites de Jesus Cristo, da santa Virgem e dos santos, que nos suplicam para coduzirmos para perto deles, na Cidade das alegrias, nossos irmãos desafortunados que choram na horrível prisão do Purgatório. Entreguemos esses órfãos a seu Pai que está no Céu, esses pobres exilados a sua pátria eterna. Um dia, em breve, nós iremos nos juntar a eles e partilhar de sua felicidade.
É contado no Livro de Daniel que o rei da Pérsia, Dario, fez uma lei cuja violador incorreria na pena de ser exposto aos leões e por eles ser devorado. O profeta Daniel, adorador do verdadeiro Deus, não podendo se submeter a essa lei pagã, foi acusado de violador da vontade real. O rei amava Daniel, e ficou desolado ao saber que ele era acusado de um crime que o condenaria à cova dos leões. Mas, para não se colocar em oposição à lei que acabara de promulgar, ele consentiu que o profeta fosse precipitado nessa espantosa cova. O rei, ao deixá-lo partir, disse-lhe: Daniel, servo de Deus, vai tranquilo; o que eu não posso fazer, eu, sem ferir minha justiça, tenho confiança que o Deus que tu adoras, o fará, e ele te libertará em sua misericórdia.
Com efeito, Deus velou milagrosamente sobre Daniel. Ele fechou primeiro a boca dos leões que, ao invés de serem seus carrascos, tinham se tornado seus guardiães. Em seguida, ele enviou seu anjo para lhe levar comida. Eis a imagem do que acontece às almas do Purgatório. Deus, ao vê-las manchadas de pecado, endividadas para com sua justiça, não pode admiti-las em seu reino, ele é obrigado a enviá-las à prisão da expiação, e lhes diz: “Ide, ide com confiança, pois o que eu não posso fazer, por causa de minha justiça, um outro Deus o fará, um Deus que eu mesmo constituí sobre vós e para vós, e que será o ministro de minhas misericórdias.” – Qual é este Deus? Sois vós, alma cristã. Vós sois constituída o Deus do Purgatório, como Moisés foi constituído o Deus do Egito. A vós cabe aliviar, libertar essas pobres prisioneiras; a vós cabe levar-lhes o alimento espiritual que elas aguardam com impaciência. Que nobre e santa missão!
Oremos. Ó Deus infinitamente bom e infinitamente amável, esquecei-Vos, eu Vos suplico, os direitos de Vossa justiça para Vos lembrardes apenas dos direitos de vossa misericórdia. Exercei-a em toda sua extensão sobre essas Almas que vos são tão caras. Abri-lhes vosso seio paternal e permiti-lhes enfim de vos glorificar no Céu por suas ações de graça e seus eternos louvores. Doce Maria, santos e santas do Céu, intercedei por elas. Ó Jesus, sede-lhes propício! mostrai-lhes vossa face na Jerusalém celeste! Que elas repousem em paz!
Em seguida, reze cada dia: