Décimo quinto dia — O esquecimento dos mortos

Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.

Denota uma grande insensibilidade

Um pobre, chamado Lázaro, com muita fome, coberto de úlceras e vestido em trapos, diz o Evangelio, deitava-se à porta de um homem rico e opulento. Ele pedia pouco: as migalhas que caiam da mesa do rico. Mas este lhe recusave tudo impiedosamente. Que insensibilidade! Que dureza! É de espantar que este rico mau, após sua morte, tenha descido ao inferno, enquanto o pobre Lázaro subiu ao seio de Abraão?

A lembrança de nossos parentes falecidos está sempre presente no nosso espírito e no nosso coração. A casa em que moramos, o nome que carregamos, os bens de que desfrutamos, tudo nos lembra de sua imagem. Eles não gritam, é verdade, seus túmulos são mudos, mas a Igreja, que é mãe deles e nossa, nos diz sem cessar: tende piedade dos vossos mortos que a mão de Deus castiga! Deixais cair de vossa mesa algumas migalhas para mitigar a sua fome, algumas gotas para extinguir a sua sede. Servo mau, não devieis ter piedade de vosso irmão? Ele só viveu, só trabalhou para vós em sua vida, e agora que vos pede apenas algumas migalhas da herança que te deixou, vos lhas recusais? Ó desumanidade! Ó barbárie! Alma cristã, dizei-me: se somos insensíveis aos gritos de angústia de nossos irmãos sofredores, como o rico mau, será Deus sensível aos nossos? Receber-nos-á em seu seio? Se não nos precipitar no inferno, como ali precipitou o rico, não nos condenará por longos anos às chamas expiatórias do Purgatório? Meu Deus, que assunto de sérias reflexões!

Revela uma grande ingratidão

Um oficial do faraó, tendo caido na desgraça do rei, foi lançado na prisão com José. Sendo um homem doce e compassivo, José fez amizade com seu companheiro de infortúnio, amenizou sua tristeza, interpretou seus sonhos e lhe deu a garantia de que seria reestabelecido em breve. Como prova de gratidão, pedia apenas que ele se lembrasse dele perante o rei. Mas, infelizmente, esse ingrato, inebriado das doçuras de sua nova prosperidade, se esquecera completamente de seu benfeitor, e o pobre José esperou ainda dois anos atrás das grades.

Com a narrativa desse cruel esquecimento, não se enche o vosso coração de uma justa indignação, alma cristã? E como podeis vós mesmos vos esquecer de tantos parentes, de tantos benfeitores, de quem recebestes a vida, de quem recebestes muitos bens, a quem deveis vossa educação, vossa distinção? Anteriormente, quando diziam adeus, e vos pediam para que não os esquececem, vós respondíeis chorando: Eu? Vos esquecer? Jamais, não, jamais! Antes morrer eu mesmo. Mas, infelizmente, o tempo secou vossas lágrimas e vós logo vos esquecestes dos mortos. Vós não tendes por eles nem arrependimentos, nem carinho, nem reconhecimento. Vós vos deleitais, como o oficial do faraó, do bem-estar que eles vos adquiriram, com o suor de sua fronte, e os deixais gemer, eles, como José, na prisão do Purgatório. Ó Alma cristã, onde está pois vossa fé, vossa consciência, vosso coração, vossa memória? Senhor, Senhor, reparai este estranho esquecimento e dai a nossos irmãos sofredores e abandonados o repouso e a glória eternos.

Exemplo

O Grão-cã, tendo posto em fuga o exército de Maurício, exigiu do imperador uma soma de dinheiro considerável pelo resgate dos numerosos prisioneiros que havia feito. Maurício recusou. O vencedor pediu então uma soma menor que não lhe foi concedida. Após ter reduzido a bem pouca coisa o resgate que desejava, sem poder obtê-lo, o bárbaro irritado mandou cortar a cabeça a todos os soldados imperiais que tivera em seu poder. Mas aconteceu que, poucos dias depois, Maurício teve uma visão terrível. Convocado ao tribunal de Deus, viu uma grande multidão de escravos que carregavam correntes pesadas. Esses infelizes, com vozes horríveis, clamavam vingança contra ele. O juiz soberano, irritado, disse a Maurício: O que preferes? Ser punido neste mundo ou no outro?Ah! Senhor, prefiro ser castigado neste mundo, responde o imperador consternado. — Pois bem, em punição de tua crueldade para com esses pobres soldados, cuja vida não quiseste salvar, quando o podias a tão pouco custo, um de teus soldados te tirará tua coroa, tua reputação e tua vida, e toda tua família te seguirá em tua queda. Com efeito, poucos dias depois, o exército se insurgiu e proclamou Focas imperador. Maurício, fugitivo, escapou num pequeno navio, mas foi em vão. Os partidários de Focas se apoderaram dele e o encheram de correntes. Esse pai infeliz teve a dor de ver massacrados seus cinco filhos e ele mesmo morreu ignominiosamente. Alma cristã, que ledes este relato, pensai bem nisto: não são pobres soldados, são vossos próprios irmãos, vossos queridos pais que gemem, e que são prisioneiros da justiça divina. Nosso Deus misericordioso vos pede para seu resgate uma oração, uma comunhão, uma esmola, uma lágrima. Sereis tão duro, tão insensível, para as recusar?

Oremos. Como poderia eu me esquecer, Senhor, destas almas às quais Vós unistes a minha por laços de afeição e de sangue? Como poderia eu abandoná-las em seus crueis sofrimentos, estes entes queridos que me deram, durante suas vidas, provas tão numerosas de devoção tão terna? Todos os dias de minha vida e até meu último suspiro, eu rezarei por elas. Ó Jesus, sede-lhes propício! Chamai vossos filhos e nossos irmãos à Cidade santa! Que eles repousem na paz eterna!

Orações

Em seguida, reze cada dia: