Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.
Nós cremos, definiu o Concílio de Trento, que as almas detidas no Putgatório são aliviadas pelos sufrágios dos fiéis. É por isso que, em sua magnífica e divina unidade, a Igreja compreende os cristãos de todos os tempos e de todos os estados. A caridade que os uniu e torna comum seus bens espirituais, não se estende apenas aos viventes, ela vai além do túmulo com aqueles que morreram na paz do Senhor. Portanto a caridade, diz São Paulo, não é como a fé e a esprança, que se apagam com o nosso último suspiro, ela sobrevive à morte e jamais perece: _Charitas nunquam excidit. Por isso, os justos, depois da morte, não são separados da Igreja, nem cortados da comunhão dos santos. Eles são sempre nossos irmãos, nossos amigos, nosso próximo. Como os anjos e os eleitos do Céu, nós podemos também livrar essas pobres almas de sua terível prisão. Os anjos e os santos só podem fazê-lo por meio da oração, mas nós podemos por todo tipo de sufrágio e boas obras. Deus nos deu um tal poder sobre a sorte dessas pobres almas, diz o Pe. Faber, que ela depende mais da terra que do Céu. Tal é a consoladora doutrina da Igreja! Tal é a tocante economia da Comunhão dos Santos!
Que alegria, que felicidade para vós, alma cristã e aflita, que chora um pai, uma mãe, uma esposa, uma criança querida! Consolai-vos, vós podeis ainda lhes dar provas de vosso amor, de vossa devoção: vós podeis ser o seu anjo libertador. Apressai-vos, portanto, vinde quebrar suas correntes, vinde quitar seus débitos, afim de que essas pobres almas possam voar para o seio da Igreja triunfante.
Não somente podemos, mas também devemos ir a socorro dessas almas infelizes. Nós devemos a Deus. Pai bom e amoroso, Ele as ama como suas esposas queridas e deseja vivamente as abrir a porta do Céu, mas sua justiça se opõe. Então, Ele se volta para nós e nos pede para satisfazer sua justiça por elas. Ele nos forneceu os meios e vê como feito a Si mesmo aquilo que fizermos à mais culpada e à mais sofredora das almas. — Nós devemos à essas pobres exiladas. Algumas, um grande número talvez, sofre no Purgatório por nossa culpa, como resultado da nossa negligência, de nossos maus conselhos, de nossos escândalos. E nós, não faremos nada para as aliviar? Ousaríamos dizer: Sou inocente das lágrimas de sangue derramadas por este justo! — Enfim, nós devemos a nós mesmos. Não nos esqueçamos que teremos necessidade um dia, talvez em breve, que dirijam a nós a caridade que podemos agora dirigir aos outros. Tudo que a piedade nos inspira a fazer pelos falecidos, diz Santo Ambrósio, se converte em obras meritórias para nós, e ao fim de nossa vida, receberemos o cêntuplo daquilo que demos.
Alma cristã, olhai para dentro de vós, interrogai vossa consciência. Tendes cumprido bem e tendes praticado até hoje este importante dever? Pensais frequentemente, pensais todos os dias nas almas que sofrem no Purgatório? Ai! Que justas reprimendas elas tem o direito de vos fazer! Tende, portanto, com elas aquela caridade que Deus ordena e abençoa; aquela caridade que abre o Céu tanto àquele que a exerce como àquele que recebe; aquela caridade que é o passaporto do cristão ao outro mundo.
Catherine de Cortone saiu de uma família nobre. Quando pequena, sua piedade e seu fervor eram os de um anjo. Ela não tinha ainda completado oito anos quando perdeu o pai. Um dia ele lhe apareceu todo envolto pelas chamas do Purgatório. Minha filha, disse ele, ficarei neste fogo até que faças penitência por mim. Com o coração trespassado de compaixão, Catarina levantou-se com coragem, e desde esse dia praticou austeridades admniráveis que fizeram dela um prodígio de penitência. Suas lágrimas, seus suspiros, suas orações, suas mortificações, logo desarmaram a justiça divina e quitaram a dívida paterna. Seu pai, radiante com o esplendor dos bem-aventurados, apareceu-lhe novamente e dirigiu-lhe estas doces palavras: Deus aceitou tuas súplicas e tuas obras satisfatórias, minha filha; vou gozar da glória. Continua toda a tua vida a imolar-te como vítima pela salvação das almas sofredoras, esta é a vontade divina. A heroica virgem foi fiel à sua sublime missão. Toda a sua vida ela rezou e praticou austeridades impressionantes para o alívio dos mortos. Suas piedosas companheiras quiseram persuadi-la a diminuir um pouco suas penitências. Ela respondeu com estas notáveis palavras que revelam todo o segredo de sua vida: Quando se viu, como eu, o que é o Purgatório e o inferno, não se pode fazer demais para tirar as Almas de um e preservá-las do outro. Não devo, portanto, poupar-me, porque me ofereci em sacrifício por elas. E nós também, temos missão e dever de socorrer as Almas que Jesus resgatou; não o esqueçamos jamais.
Oremos. Bendito sejais, ó meu Deus, por me terdes confiado a missão de aliviar essas almas que tanto amais, e que têm tanto direito à minha compaixão. Como é bom poder enxugar suas lágrimas e abrir-lhes o Céu! Lembrai-me frequentemente deste grande dever da caridade e ajudai-me a cumpri-lo. Jesus, sede propício aos nossos queridos defuntos. Chamai vossos filhos e nossos irmãos à felicidade eterna, e que a luz que não se apaga brilhe sobre eles! Que descansem em paz!
Em seguida, reze cada dia: