Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.
Lembrai-vos, diz um piedoso autor, que estamos unidos a essas santas almas pelas cadeias de uma corrente espiritual e toda divina. Como nós, elas foram criadas à imagem de Deus, resgatadas pelo sangue de Jesus Cristo, regeneradas pelas águas do batismo e, podemos dizer verdadeiramente, que os mesmo braços, os da Igreja, as carregaram. Somos filhos da mesma mãe. Como nós também, e talvez ao nosso lado, elas tomaram lugar à mesa da sagrada Eucaristia e receberam este penhor da vida eterna. Elas levaram ao mundo futuro as mesmas esperanças que adoçam os amargores de nossa peregrinação. Membros do mesmo corpo, herdeiras do mesmo reino, elas serão um dia nossas companheiras na eternidade. Mas entre elas e nós existe esta diferença: elas são infelizes, prisioneiras, mártires, impotentes para ajudarem-se a si mesmas, e esperam de nós ajuda e consolação.
Nós temos para com elas uma dívida. Não têm elas um direito incontestável à nossa compaixão e ao nosso amor? Se os membros de uma mesma família se amam entre si com ternura, se a dor de um se torna a dor dos outros, não deve ser assim também com os filhos da Igreja católica? Onde está nossa caridade, se nós não amamos essas pobres almas imersas na dor? Será possível que, sendo humanos, e sobretudo cristãos, fiquemos insensíveis ao seus males? Amemo-las como nós mesmos, amemo-las como Jesus Cristo nos amou. E então nós as aliviaremos a as libertaremos. Meus finlhinhos, escreveu o apóstolo São João, não amemos somente com palavras e com a língua, mas com ações e em verdade.
Entre essas vozes que gemem tão cheias de aflição e dor, não distinguis alguma que vos seja familiar e que vos fala eloquentemente ao vosso coração? Ah! É o clamor do sangue! É a voz de um irmão, de uma irmã que vos ama com carinho, e que fazia convosco a alegria do lar paterno. É a voz de um filho querido, a esperança da família, que queríeis poupar da morte, e que, já moribundo, vos estendia sua mão desfalecente e gelada. É a voz de um esposo, de uma esposa bem amada, que o amor uniu ao pé do altar e que a morte, infelizmente, separou. É a voz de um pai, de uma mãe, cujo sangue corre em vossas veias e cuja morte arrancou de vós tantas lágrimas. E esse grito do sangue, essa voz da família, que ela vos diz? Escuteis: _Vem, ó irmão, ó irmã, ó filho, ó esposo, ó pai, vem me socorrer! Há muito tempo que eu estou chamando! Eu não tenho ninguém além de você, e você não vem. Vem com o seu coração, com as suas orações, com as suas boas obras, com a sua devoção. Vem me tirar deste abismo incandescente, me levar para o Céu, para Deus, para e Eternidade! Vem!!
Alma cristã, como resistir a esse grito de sofrimento? Como não responder a esse apelo urgente? Meu Deus! Quem sabe se não fomos nós mesmos quem acumulamos essas brasas vingadoras sobre a cabeça daqueles que tanto nos amaram, talvez até demais? Que motivo mais oportuno para as socorrermos!
Em 1874, um judeu, artista distinto, se converteu durante um sermão sobre a Eucaristia, deixou o mundo após ter recebido o batismo, e entrou numa ordem religiosa bastante austera. Ela passava todos os dias muitas horas diante do Santíssimo Sacramento e, durante os momentos de fervor, o que ele pedia a Jesus Cristo era a conversão de sua mãe, por quem tinha um carinho filial dos mais ternos. Contudo ele não conseguiu nada: sua mãe morreu com obstinação no erro do judaísmo. Penetrado de uma dor amarga, ele foi prostrar-se diante do Tabernáculo e, dando vazão às suas queixas, disse: Senhor, eu Vos devo tudo, é verdade, mas o que Vos recusei? Minha juventude, minhas esperanças no mundo, o bem estar, as alegrias da família, um repouso talvez legítimo, tudo sacrifiquei desde que me chamastes. Até mesmo meu sangue eu teria dado. E Vós, Senhor, a eterna bondade, que prometeu dar cem vezes mais, me recusou a alma de minha mãe? Meu Deus, eu sucumbo a este martírio, meus murmúrios escapam de minha boca.
Os soluços sufocavam este pobre coração. De repente, uma voz misteriosa atinge seu ouvido e diz: Homem de pouca fé, tua mãe está salva! — Minha mãe está salva! Ah! Senhor, será possível!? — Sim, ela está salva! Saiba que a oração tem todo poder junto a mim. Recolhi todas aquelas que me dirigiste por tua mãe, e minha providência as levou em conta, em sua última hora. No momento em que ela expirava, apresentei-me a ela e, ao me ver, ela exclamou: “Meu Senhor e meu Deus!”. Levanta, pois, com coragem. Tua mãe evitou a danação e tuas súplicas fervorosas libertarão logo sua alma da prisão do Purgatório.
Oremos. Misericórdia, Senhor, para as almas a quem Vós me unistes pelos laços mais doces, mais estreitos, e a quem Vós me destes o dever de amar. Sim, misericórdia para as almas dos meus pais, dos meus bem-feitores, dos meus amigos. Senhor, deixai-Vos mover pelas orações e pelas lágrimas que eu Vos ofereço por elas. Ó Jesus! Ó Maria! Sede-lhes propícios! Chamai Vossos filhos e nossos irmãos para o lugar de descanso, de luz e de paz.
Em seguida, reze cada dia: