Décimo primeiro dia — Santidade das almas do Purgatório

Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.

Elas amam a Deus

Toda alma, diz Santa Catarina de Gênova, pelo simples fato de estar no Purgatório, se encontra elevada a um estado de perfeição e de união divina que poderia servir de modelo aos mais grandes santos aqui na terra. Há alí, com efeito, uma multidão imensa de almas predestinadas que venceram suas paixões, o mundo e o demônio, que praticaram virtudes as mais heróicas e que sairam do exílio carregadas de méritos. Elas brilhariam como as estrelas no firmamento do Céu, se suas vestes não tivessem sido manchadas por alguns grãos de poeira da terra. Sim, estas são as almas belas, santas, impecáveis, mortas para toda imperfeição. A menos preciosa vale mais que o universo físico inteiro. Elas amam a Deus sobre todas as coisas, totalmente. Este amor as faz abraçar seus sofrimentos, e amar a justiça que as mantêm neste lugar de expiação. Em vão abririamos a porta do Céu a essas almas, pois prefeririam ficar mergulhadas nas chamas que entrar na glória com a mais leve imperfeição. Elas não podem agradecer a seu Bem-Amado o bastante por tê-las preparado um lugar de expiação para poderem adquirir aquele esplendor de beleza que convém às Suas esposas. E ainda melhor que Jó, no meio de suas dores, elas repetem sem cessar: Bendito seja o santo nome do Senhor!

Tende, pois, compaixão dessas santas almas, enquanto ainda têm necessidade da nossa assistência. Muito em breve os papéis se inverterão: elas se tornarão nossas protetoras no Céu, nossas mediadoras diante de Deus, e então elas nos retornarão com alegria, e com juros, aquilo que tivermos feito por elas no tempo de sua aflição.

Elas são amadas por Deus

Se Deus, diz um piedoso autor, nos ama, nós, pobre pecadores, tão imperfeitos, tão desprovidos de virtudes e méritos, então essas almas do Purgatório, que são Suas para sempre e em quem Ele vê brilhar a beleza dos Seus eleitos, Lhe são, portanto, infinitamente mais queridas. Essas são Suas esposas, Seus filhos queridos, os herdeiros da glória, chamados a Lhe bendizer eternamente no Céu. Todos são pedras vivas, destinadas ao edifício da Jerusalem celeste, e que o cinzal do Divino Escultor acaba de talhar e de polir, antes de os fazer entrar no lugar a que as destinara desde toda a eternidade. Sim, Ele as ama carinhosamente, Ela as olha com amor, Ele deseja ardentemente Se unir a elas. Seu coração paternal sofre pelo seu triste exílio, mas Sua justiça, que tem os mesmos direitos que Sua bondade, as retêm na prisão até que tenham pagado todas as suas dívidas. Que alegria para este bom e carinhoso Pai, se um amigo, um mediador, se coloca entre o castigo e a culpa, vem desarmar Seu rigor e O reconciliar com seus amados filhos!

Quantas razões para nos afeiçoarmos a essas almas benditas, e para exercer generosamente a misericórdia para com elas! Elas são tão dignas de nossa piedade! Qando damos uma esmola a um pobre, não sabemos se ele a merece, se não se tornará por isso mais culpado, mais ingrato. Mas nessa obra temos a certeza do sucesso. A terra onde plantamos é invariavelmente fiel: para cada grão que semeamos, o Céu colhe um fruto e nós, uma bênção. Como isso nos dá ânimo!

Exemplo

Santa Gertrudes, em um êxtase, viu a alma de uma religiosa que passou sua vida no exercício das maiores virtudes. Ela estava na presença de Nosso Senhor, vestida com a insígnia da caridade, mas não ousava olhar para o rosto adorável do Salvador. Ela permanicia com os olhos baixos, com a atitude de um criminoso em flagrante, indicando por seus gestos quere retirar-se, afastar-se do divino Mestre. Gertrude, espantada pelo comportamento tão singular, queria saber o porquê: Deus de bondade, disse ela, por que não recebeis esta alma junto de vós? A estas palavras, Nosso Senhor estendeu os braços com amor, como se quisesse atrair esta alma a si, mas ela se afastou com uma humildade respeitosa. A santa, cada vez mais surpresa, perguntou à alma da religiosa por que ela fugia assim dos abraços de tão terno esposo. Ela lhe respondeu: Porque ainda não estou purificada das manchas que minhas faltas deixaram em mim. E, se Deus me concedesse, no estado em que estou, a livre entrada do céu, eu não consentiria, pois, por mais brilhante que eu pareça aos seus olhos, sei que ainda não sou uma esposa digna de meu Salvador.

Asim essas santas almas suportam seus sofrimentos de muito bom grado, com uma resignação perfeita. Elas estão tão transformadas em Deus, que elas não quereriam, ainda que pudessem, subtrair a menor parte de seus tormentos. Elas os aceitam com uma alegria que cresce mais à medida que se aproximam to termo de sua expiação. Ó! Como são dignas de nosso amor, de nossa piedade, de nossa caridade!

Oremos. Ó Deus que perdoais aos pecadores e que desejais a salvação de todos os homens, lançai um olhar de bondade sobre as almas do Purgatório. Elas são Vossas esposas, Vossos filhos de predileção. Elas Vos amaram carihosamente e Vos serviram corajosamente. Mostrai-lhes vossa divina face. Ó Jesus, sede-lhes propício! Senhor, chamai vossos filhos e nossos irmãos à morada eterna, e que a luz que não se apaga brilhe sobre eles! Que descansem em paz!

Orações

Em seguida, reze cada dia: