Décimo dia — Os dois caminhos que conduzem ao Purgatório

Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.

O caminho dos pecados mortais

Pela sua natureza, o pecado mortal conduz mais longe que o Purgatório: ele precipita a alma no abismo do inferno. Mas o pobre pecador se confessa, e o perdão do Senhor desce sobre ele pela graça sacramental. O que acontece, então? A falta grave está perdoada, a amizade de Deus reestabelecida, e a pena eterna é comutada em pena temporal que é necessária ser expiada, ou neste mundo, pela penitência, ou no outro, pelos sofrimentos do Purgatório. E agora, se acontecer que um grande pecador receba, com as disposições necessárias, a absolvição, não de um pecado mortal, mas de vários, de dez, de cem, após longos anos de desvio, que terrível, que longo Purgatório o espera! Que enorme dívida ele deverá pagar à justiça divina! É verdade que a penitência sacramental reduz nossa dívida, mas essa penitência é geralmente tão leve, e feita com tão pouco fervor! É verdade também que as mortificações e as indulgências podem nos preservar ou nos livrar do Purgatório. Mas infelizmente, há tão poucos cristãos que se mortificam e que jejuam! Aqueles que são os mais culpados são precisamente aqueles que fazem menos penitências. Enfim, quantos têm a contrição necessária para ganhar as indulgências? Ó Deus! Como há tão pouca gente que evita esse terrível abismo! Tantos pecados e tão pouca reparação!

Se nossa vida passada foi manchada por faltas graves, andamos por este primeiro caminho que conduz ao Purgatório. Estas considerações, alma cristã, são propícias a nos fazer refletir, e a nos fazer verter lágrimas de penitência. Ó Senhor, meu Deus, infundi em meu espírido um temor salutar, ao pensamento antecipado de Vossos temíveis julgamentos! São próprias também para nos colocar de joelho, em orações e súplicas, pelas almas mais culpadas desse lugar de expiação.

O caminho dos pecados veniais

Mas eu quero crer, almas cristãs, que sejais inocentes, que tenhais conservado a pureza do vosso batismo, como São Luís; quantas faltas veniais não tendes a reprovar-vos que vos constituem devedores perante Deus? Na verdade, essas faltas são inumeráveis. Vossa vida talvez não seja senão um tecido de pecados veniais. Quantos pensamentos inúteis! Quantas palavras ociosas! Quantos julgamentos temerários! Quantas distrações! Quantas maledicências! Quanta vaidade! Tempo perdido inutilmente! Não ofendeis a Deus muito frequentemente, todos os dias, sob o fútil pretexto de que vossas faltas são apenas leves? Não vos tornais frequentemente culpados de certas faltas veniais que se poderia chamar graves, porque se avizinham do pecado mortal? E quando é que fazeis penitência? Ora, se vossa vida está cheia de dívidas e vazia de satisfações, é bem evidente que estais na segunda via que conduz diretamente ao Purgatório. Infelizmente, quantos dias, quantos meses, quantos anos, não tereis de gemer neste terrível lugar de expiação? Meu Deus! Como vosso Purgatório será longo e rigoroso!

Alma cristã, reflitamos seriamente e digamos a nós mesmos: Quero enfim acertar minhas contas com Deus, quero aproveitar o tempo que me concede sua misericórdia para satisfazer à sua justiça; quero quitar as dívidas que me é tão fácil saldar com um pouco de generosidade e de amor. Eu posso, eu devo, eu o farei! Almas caridosas do Purgatório, vinde em meu auxílio. Pedi por mim o espírito de penitência, eu pedirei por vós alívio e consolação.

Exemplo

Nada expõe a malícia do pecado venial como o que contam um grande número de almas, em aparições autênticas, sobre o rigor com que Deus lhes faz expiar estas faltas que, segundo nossa maneira de ver, são muito leves. Algumas foram condenadas ao Purgatório por terem falado na Igreja sem necessidade, como relata Cesário, de uma menina de sete anos. Outras, como a irmã de são Pedro Damião, por terem escutado com prazer uma canção profana. Catarina, nobre donzela romana, veio a morrer. Santa Mônica tinha uma tão boa opinião desta virgem, que recomendava frequentemente às suas orações seu filho Agostinho. E apesar disso, a alma da defunta apareceu, cheia de tristeza, ao santo bispo Martinho, e lhe disse: Eu queimo nestas chamas expiatórias por ter lavado duas ou três vezes o rosto por vaidade! São Severino passou alguns anos no Purgatório, por causa de certas negligências no ofício divino. Um menino de nove anos foi também condenado por não ter pago ou devolvido algumas bagatelas que tinha tomado. Um pai de família permaneceu quinhentos anos neste fogo, por ter negligenciado a educação de seus filhos. Quantos outros tiveram a mesma sorte! Compreendamos, portanto, à luz do fogo terrível do Purgatório, que grande mal é cometer um pecado venial! Infelizmente, longe de chorar, nós o cometemos sem escrúpulo, por maneira de jogo e divertimento. Flizes as almas que poderão dizer na morte, como são Paulo: Trago em mim os estigmas do Senhor Jesus!

Oremos. Quantas faltas, ó meu Deus, eu cometo sem remorso, como se fossem sem importância! Se eu pensasse na conta que deverei dar um dia à Vossa justiça, como eu seria mais vigilante. Dignai-vos sustentar-me em minha fraqueza e reanimar minha coragem que vacila. Dignai-vos também olhar com misericórdia a meus irmãos da Igreja padecente. Ó Jesus, sede-lhes propício e abri-lhes a porta da Igreja triunfante. Que descansem em paz!

Orações

Em seguida, reze cada dia: