Oitavo dia — Duração das penas do Purgatório

Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.

Qual é a duração?

A Igreja não definiu nada com relação à duração das penas do Purgatório, mas ela nos mostra o suficiente sobre o que pensa, ao autorizar as celebrações anuais, em memória dos falecidos, pelo repouso de sua alma. Ela crê portanto que a expiação deve ser longa e pode mesmo se prolongar por séculos. É assim também o sentimento dos Santos Padres. Mais de vinte anos após a morte de sua mãe Mônica, Agostinho pediu ainda orações por ela. Santo Ambrósio rezou publicamente, durante toda a vida, pela alma de Teodósio o Grande. E o cardeal Belarmino diz que, para certas almas, a duração das penas do Purgatório, segundo revelações muito dignas de fé, poderia se prolongar até o dia do juízo final se a Igreja não viesse em seu socorro. Existem almas infelizes que ali padecem há longos anos!

Quem nos dirá a medida do tempo e do sofrimento para expiar um pecado venial? E para remover a ferrugem que deixam na alma os pecados mortais e lhe dar o brilho da beleza dos anjos? Ó insondável mistério dos julgamentos de Deus!

Como a duração aumenta o rigor das penas! Sofrer horrivelmente e por muito tempo! Espera! Espera mais! Espera indefinidamente! Que dor, que martírio para essas almas benditas! Consideremos como a intensidade dos males que elas suportam fazem instantes parecerem meses, e meses parecerem séculos. Ó torturas incompreensíveis! Ó horas! Ó séculos cruéis! Senhor, abreviai esses sofrimentos, limitai a intensidade e a duraçao das dores dos nossos amigos, de nossos irmãos, e sobretudo daqueles que devem ficar o tempo máximo neste lugar de expiação.

Quais são as causas?

Não nos espantemos da terrível duração dos suplícios do purgatório. Uma das mais santas religiosas da Visitação, a irmã Maria-Denise, que todos os historiadores dessa ordem reconhecem como tendo sido favorecida com graças extraordinárias para o sufrágio dos mortos, dizia que varias causas tornavam inevitável a longa duração das penas desse lugar de expiação. Primeiramente, a inconcebível pureza que a alma deve ter antes de possuir a Deus. Em segundo lugar, a inumerável quantidade de nossos pecados veniais. Em terceiro lugar, O quão pouca penitência fazemos por nossos pecados mortais confessados. Em quarto lugar, a impossibilidade absoluta das almas dos defuntos de aliviarem-se a si mesmas. Finalmente, o esquecimento, o estranho esquecimento dos mortos, nossa culpável negligência em os aliviar. Essas considerações são sérias e, infelizmente, muito bem fundamentadas.

Portanto, de agora em diante, não sejamos tão precipitados em canonizar os mortos. Nós sentimos tanta necessidade de crer que que estão num lugar de paz e de beatitudes, que nos apressamos em dizer a nós mesmos que já chegaram ao Céu. Então paramos de rezar e de suplicar a Deus por eles. Notemos os santos, como pensam e agem de maneira bem diferente. Durante a vida toda, eles rezavam por queles que a morte havia arrebatado, e ao morrer, pediam ainda com lágrimas por eles. Façamos o mesmo. Não seríamos capazes de segurar um dedo no fogo por um minuto sem gritarmos de dor, mas suportaríamos que as almas a quem tanto amamos fiquem imersas no fogo devorador do Purgatório anos inteiros por nossa negligência? Ah, isso seria cruel demais! Ó almas queridas, não, jamais nos esqueceremos de vós!

Exemplo

Escutemos uma pequena história que diz mais que um longo discurso.

Um homem, durante anos, ficou trancado em uma prisão conhecida. Um dia, cansado de sofrer, ele concebeu uma idéia para escapar. Uma mulher era bastante poderosa naquele tempo; ela tinha muita influência e conhecia quem poderia abrir as grades do prisioneiro e pôr fim a seus sofrimentos. Eis, diz a história, em que termos eloquentes o infeliz lhe dirigiu sua súplica: Senhora, a 25 deste mês de março de 1760, haverá cem mil horas que sofro, e me restarão ainda duzentas mil horas a sofrer. Ó Senhora, sede tocada por tão longo e tão doloroso martírio! Achou-se o coração desta mulher duro o bastante para resistir a esta eloquência? Não importa. Mas parece-me que não se pode colocar mais em tão poucas palavras. Ele havia pois contado as horas! Sim, como poderíamos contar um a um os batimentos de um relógio durante uma noite longa e triste, onde o sofrimento nos mantém em vigília!

É assim que as benditas almas do Purgatório calculam a duração de seus sofrimentos. Mas não em horas, e nem em dias, e sim em anos, e esses séculos lhes parecem eternos. Ó justiça de meu Deus, como sois tremenda! Ó almas tão severamente punidas, como tenho pena de vós!

Oremos. Cheio de temor pelo pensamento de Vossos temíveis julgamentos, da intensidade e do comprimento da pena que a Vossa justiça impõe às pobres almas do Purgatório, eu caio a Vossos pés, ó meu Deus! Cheio de compaixão por essas prisioneiras infelizes, eu Vos suplico, em nome de Jesus Cristo, a lançar sobre elas um olhar de misericórdia e a colocar um fim em seu martírio. Ó Maria, doce consoladora do aflitos, sede-lhes benigna! Livrai vossos filhos do cativeiro! Que descansem em paz junto de vós no Céu!

Orações

Em seguida, reze cada dia: