Sétimo dia — A pena do remorso

Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.

O mal que era preciso evitar

Os tormentos de que acabamos de falar não são, infelizmente, os únicos que torturam as Almas retidas no lugar de expiação. Elas provam ainda a tristeza, a desolação, os arrependimentos amargos, as censuras pungentes da consciência culpada, mil vezes mais insuportáveis para elas do que as dores do fogo material que as faz sofrer sem as consumir. No inferno, diz o Evangélio, o verme que roi os réprobos jamais morre. No reino do Purgatório, ele morrerá certamente um dia, mas enquanto ele vive, ele morde cruelmente e rasga de maneira pavorosa as vítimas desafortunadas de quem ele se tornou o carrasco. É horrível a luta de de uma alma que carrega o remorso. Do fundo de sua masmorra, essa alma cativa lança um olhar doloroso sobre toda a sua existência aqui na terra, e à luz das chamas que a envolvem, ela vê distintamente todo o mal que ela cometeu e que poderia ter facilmente evitado com a graça de Deus. Ela descobre milhares de faltas que passaram desapercebidas até então, ou que ela julgava sem importância. Forçada a reconhecer-se culpada, quando só dependia dela ser justa em todas as coisas, esta pobre alma aflige-se profundamente e exclama no delírio de sua dor. Meu Deus, vós sois justo, e vossos julgamentos são equânimes. Sou o único autor de meus sofrimentos. Ah! Se eu pudesse recomeçar minha vida, como eu Vos serviria, Senhor, e com que cuidado evitaria o Purgatório! Arrependimentos vãos e inúteis. Infelizmente, é tarde demais.

Aprendamos, caro leitor, fujamos do pecado, façamos penitência enquanto vivos, afim repararmos as ofenças feitas a Deus e evitar esse verme que corroi as almas do Purgatório. Meu Deus! Batei, queimai e moei neste mundo, afim de nos poupar no próximo.

O bem que era preciso praticar

O que aumenta ainda mais a pena desta alma exilada, é a visão de todo o bem que ela poderia ter praticado e que frequentemente não fez. De todos os benefícios que ela recebeu de Deus dos quais ela não fez bom uso. Com efeito, o que mais poderia ter feito o Senhor para fazê-la produzir frutos de salvação? Ele a fez nascer no seio da verdadeira fé, Ele nutriu-a com os sacramentos, fortificou-a com sua graça, encorajou-a com o exemplo dos bons. Cercada de tanta ajuda, ela devia percorrer a passos de gigante o caminho da santidade e chegar, como tantos outros, à mais alta perfeição. Mas, apesar de tudo, ela parou frequentemente no caminho, e frequentemente andou com lentidão. Ah! Se ela tivesse sido generosa para se inflingir algumas leves penitências, algumas mortificações fáceis; mesmo se ela tivesse aceitado com resignação as penas inevitáveis da vida, ela teria cumprido seu Purgatório na terra, e eternamente gozaria da visão beatífica. E agora, ela suporta por culpa própria e sem mérito, penas incomparavelmente maiores. No lugar da coroa de glória que ela poderia ter no Céu, é torturada por uma coroa de chamas no Purgatório. Como são angustiantes essas lembranças! Como são doloridas as ferroadas do remorso!

Alma cristã, olhemos para dentro de nós mesmos. Não temos nós também remorsos de consciência, pesares bem amargos? É o arrependimento de termos cometido muito mal e feito pouco bem. É o remorso de ter rezado tão pouco pelo alívio de nossos entes queridos que faleceram. Tomemos a resolução de fazer melhor no futuro, com a graça de Deus e a ajuda de Maria.

Exemplo

Gerson, chanceler da Universidade de Paris, tão distinto por suas virtudes e por sua eloquência, nos conta em seus trabalhos que uma popbre mãe, esquecida há muito tempo por seu filho, recebeu de Deus a permissão de lhe aparecer para lhe contar suas penas e lhe pedir orações. Meu filho, exclama ela, meu querido filho! Pensa um pouco na sua pobre mãe que sofre tanto. Considera os horríveis suplícios no meio dos quais a justiça de Deus me faz expiar as faltas de minha vida mortal. O mais insuportável de todos é o remorso, o arrependimento de ter amado tão pouco a Deus que me cumulou de tantas graças. Haver ofendido um Deus tão grande, tão santo, um juiz tão iluminado, um pai tão amoroso, um benfeitor tão generoso! Ah! Esse pensamento me oprime e me mata a cada instante. Este verme roedor é como um punhal afiado que me trespassa sem me matar, que me tortura dia e noite e me arranca lágrimas de sangue. Contudo, sou forçada a exclamar, batendo sem cessar no peito: Meu Deus, vós sois justo e equitativo; se sofro cruelmente, é por minha culpa, é por minha máxima culpa! Ó meu filho, se ainda me ama, tem piedade de mim, arranca este punhal, livra-me deste verme roedor, abra-me o céu. Peço-lhe ainda, meu caro filho, que sirva a Deus melhor que sua mãe, que morra com lágrimas nos olhos e contrição no coração!

Fiel a estes avisos, a criança orou muito por sua mãe e morreu ela mesma como predestinada.

Oremos. Dai-me a graça, ó meu Deus, de me tornar santo e perfeito, como Vós o desejais. As almas do Purgatório, por terem sido um pouco negligentes, são severamente punidas pelos pesares que as dilaceram sem descanso. Apagai seus remorsos, ó Senhor, perdoando-lhes suas faltas, pois é demasiado agudo a espada que as trespassa. Ó Jesus, sede-lhes propício! Chamai vossos filhos e nossos irmãos ao seio da glória! Que descansem em paz!

Orações

Em seguida, reze cada dia: