Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.
O grande apóstolo nos diz que há almas que não serão admitidas na morada gloriosa senão após serem purificadas pelo fogo, quasi ignem. Evidentemente, não é o fogo do inferno, que não se extingirá jamais; é portanto aquele que fará sentir seus rigores no Purgatório. Tal é a afirmação unânime de todos os grandes doutores da Igreja. Se perguntarmos a Santo Ambrósio, a Santo Agostinho, a Santo Tomás, o que sofrem as almas do Purgatório, eles nos responderão: O suplício do fogo! E nós mesmos, se neste momento nos debruçássemos sobre a borda do abismo para escutar os gemidos daqueles que amamos, ouviríamos vozes que se lamentam do fundo do Purgatório e que gritam para nós, como gritava o rico do fundo do inferno: “sou atormentado por esta chama”, crucior in hâc flammâ.
Fogo! Alma cristã, essa única palavra faz tremer. Estar inteiramente no fogo, num fogo ativo, penetrante, que atinge o próprio íntimo do ser, que suplício cruel! O fogo material age apenas sobre o corpo, e quão horríveis são seus efeitos! Quem poderia suportar um carvão ardente sobre sua mão, um só minuto? Mas o fogo do Purgatório age sobre a própria alma; ele atinge a inteligência, a memória, a sensibilidade; todas as faculdades são por ele tomadas e penetradas: anima tota punitur. Diante deste suplício que mal podemos imaginar, e que tão frequentemente merecemos por nossas faltas cotidianas, dirijamo-nos esta pergunta. Quem dentre nós poderia habitar neste fogo devorador?
Meu Deus! Preservai-nos do fogo do Purgatório e livrai as almas que nele estão submersas! Extingui pelo orvalho divino do vosso amor as chamas que as devoram!
Para tentar compreender o poder do fogo do Purgatório, é preciso entender que é o sopro da justiça de Deus que o acende e o mantém; que ele não age como elemento, mas como instrumento do poder divino; que ele tortura suas vítimas por uma força que ele não tem em si mesmo, mas que lhe é conferida pela cólera do Senhor, a fim de punir essas Almas sem lhes dar a morte, de as purificar sem as destruir. O fogo deste mundo é um dom da Providência; o do Purgatório é uma criação de sua justiça, de seu furor, de sua vingança. Não, diz santo Tomás, as fornalhas mais ardentes, as labaredas mais ferozes às quais se condenavam os mártires, não são senão uma sombra fresca, em comparação com as chamas devoradoras que se sofre no Purgatório. Este fogo, acrescenta um santo Padre, é igual em tudo ao do inferno, menos na duração. Que terrível suplício! Que martírio espantoso é o destas pobres vítimas!
Lembre-se, alma cristã, de que as penas desta vida, quaisquer que sejam, não podem ser comparadas com as do Purgatório. Quem seria, pois, tão desumano de não escutar os gritos dilacerantes destes entes desafortunados que, do fundo de sua prisão onde queimam noite e dia, imploram nossa assistência? Ó, se estivésseis em seu lugar, e se todo o mundo tivesse por vós tão pouca caridade quanto vós tendes por eles, como qualificaríeis semelhante crueldade? Refleti seriamente e então fazei bons propósitos!
Há alguns anos apenas, numa de nossas cidades, o fogo tomou subitamente o andar térreo de uma casa. Era noite. Nos andares superiores, várias pessoas estavam adormecidas. Seu sono era tão profundo, que só foram despertadas quando o fogo já havia feito muito estrago. Ele havia subido e alcançado o cômodo vizinho daquele onde se encontravam. Elas levantaram-se sobressaltadas, queriam fugir; o fogo as deteve. Elas corriam, procuravam por toda parte uma saída, mas em toda parte algum obstáculo se opunha à sua fuga. Durante esta confusão, o incêndio fez novos progressos. Corriam em todas as direções, soltavam gritos de desespero, chamavam por socorro: Salvai-nos! Salvai-nos! Mas era impossível chegar até elas. Num momento o fogo as alcança, a chama as circunda, o assoalho desmorona sob seus pés, elas desaparecem sob um turbilhão, e num instante, são consumidas. Foi seguramente um espetáculo horrível e uma terrível desgraça.
Mas há algo de mais lúgubre e mais tocante. São as almas de nossos amigos, de nossos parentes, de nossos irmãos, que são devoradas pelo fogo, e que fogo! O próprio fogo da cólera de Deus. Mas podemos salvá-las por nossas petições e pelo sangue de Jesus Cristo. Piedade! Libertai-as, ó meu Deus! Ó meu Jesus, misericórdia!
Oremos. Ai de mim! Ó meu Deus! Como temo vossa justiça, quando me recordo de minha vida sensual, de meus inumeráveis pecados, e do pouco que fiz por vós! Tende piedade de mim, Senhor! Tende também piedade das almas de meus irmãos que me precederam na eternidade, e que estão agora sob o império de vossa justiça. Ó Jesus, sede-lhes propício! Retirai vossos filhos e nossos irmãos destas chamas vingadoras e colocai-os junto de vós, na morada da glória! Que descansem em paz!
Em seguida, reze cada dia: