Quarto dia — Existência do Purgatório, parte II

Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.

Testemunho de nossa razão

Em concordancia com a fé, a razão também proclama a existência do Purgatório: sua voz nos fala assim como a Igreja e as Escrituras. Ela nos diz em primeiro lugar que, sendo Deus perfeitamente santo, nada de impuro pode entrar em seu reino. Que existe uma repulsa eterna e insuperável entre o menor dos males e o Bem supremo. E que uma alma, ainda que possua uma pequena mancha, é indigna de se unir a Deus até que tenha sido purificada. Do contrário, ela introduziria o pecado no Céu. Senhor, dizia o salmista, quem há de morar em vosso tabernáculo? Quem habitará em vossa montanha santa? O que vive na inocência e pratica a justiça.

A razão nos diz ainda que, sendo Deus infinitamente justo, exige reparação. Que ele não pode deixar sem punição o mais leve dos pecados, assim como não pode deixar sem recompensa o menor ato de virtude. Portanto, aquele que não fizer reparação por suas faltas neste mundo, as repararão infalivelmente no próximo. As satisfações que não tivermos dado à Justiça divina nesta vida, a justiça de Deus tomará para si após a nossa morte. E onde isso se dará? No Purgatório.

Alma cristã, vamos provar nossa fé no dogma do Purgatório através de uma terna caridade pelas almas que ali se encotram e que estão sujeitas a rigorosas purificações; e fugindo das faltas “leves” que podem nos levar a esse lugar. Que aquele que é justo seja ainda mais justo, e que o santo se torne ainda mais santo.

Testemunho do nosso coração

Não há dogma católico que não tenha suas raízes nas profundezas do coração humano, dizia Joseph de Maistre. É por isso que somos naturalmente inclinados a abraçar certas verdades reveladas. Assim também acontece com o Purgatório. Os próprios ímpios que renegaram toda crença, todo sentimento religioso, confessam com sinceridade que não podem, nessas graves circunstâncias, evitar as orações secretas que lhes escapam do coração, pelas pessoas às quais ternos laços os uniram estreitamente. Prova evidente de que este é um sentimento impresso no coração do homem pelas mãos de Deus. Assim observamos em todos os países e entre todos os povos do mundo. O que pode haver de mais suave ao coração que esta crença e este culto piedoso, que nos ligam à memória e aos sofrimentos dos mortos? Sim, precisamos crer que existe além das margens do tempo um lugar de expiação, que não é o inferno, mas o caminho do Céu.

Precisamos crer que nossos pais e amigos, prisioneiros da justiça divina, são aliviados por nossas orações e nossas boas obras, que eles nos veem e que nos ouvem. Precisamos crer que nós mesmos, um dia, seremos aliviados quando chegar a nossa vez. Que pensamento doce e consolador! Oh! Como são dignos de pena os protestantes, nossos irmãos desgarrados! Eles não têm a religião do coração.

Ó divina religião católica, exclama um sábio Prelado, verdadeira religião do coração, como amo ver-te assim afastando com tua mão materna o sombrio véu de nossos lutos, trazendo um encanto aos nossos pesares e lançando flores sobre o caminho de nossos funerais.

Exemplo

Um jovem escossês luterano tinha um único irmão que amava muito. Infelizmente, uma derrame fulminante o levou subitamente no meio de uma festa mundana, onde ninguém esperava tão fúnebre catástrofe. A partir desse momento, este infeliz foi presa de uma melancolia profunda e contínua. Pensava constantemente na passagem tão brusca de um divertimento para o temível julgamento de Deus. Temia que seu irmão não fosse encontrado puro o bastante para entrar imediatamente no Céu, e em sua religião protestante, não encontrava lugar intermediário entre os átrios celestes e as profundezas do abismo. Para se distrair, ordenaram-lhe que viajasse, e ele foi à França. Ali encontrou um sacerdote e lhe comunicou sua pesada aflição. Meu amigo, disse-lhe o homem de Deus, só encontrarás consolação e esperança na religião católica, que é tão admiravelmente adaptada às necessidades da alma e do coração; que nos diz que há entre o Céu e o inferno um lugar intermediário, onde as almas acabam de se purificar, e onde podemos socorrê-las com nossas orações. Vós protestantes, não tendes nem o culto nem as alegrias da família, porque não tendes fé no Purgatório. Crede-me, fazei-vos católico, então podereis orar por vosso irmão que tanto amais, conversareis com ele, pedireis para ele cada dia a felicidade do Céu. Então respirareis, vivereis, sereis aliviado do peso que vos oprime. Ele seguiu este piedoso conselho, negou a heresia, entrou no seio da Igreja, e tornou-se um católico sincero. Era frequentemente visto derramando sua alma sobre o túmulo de seu irmão. É verdade que a crença no Purgatório é uma necessidade do coração humano!

Oremos. Sim, meu Deus, meu coração tem necessidade de crer que a morte não interrompeu os laços com aqueles de quem ela me separou, que minhas orações e minhas lágrimas podem pleitear suas causas junto à vossa bondade e apressar o instante de sua felicidade. Sede bendito por este artigo de nossa fé que nos traz tão doces consolações! Ó Jesus, sede propício a nossos irmãos na morada eterna. Que descansem em paz!

Orações

Em seguida, reze cada dia: