Segundo dia — O Purgatório

Oremos. Senhor, escutai as orações que Vos ofereceremos todos os dias deste mês, pela consolação de nossos irmãos e irmãs falecidos, e concedei-lhes um lugar de descanso, de luz e de paz! Escutai também as orações que essas almas Vos oferecerão por nossa intenção, para que possamos finalmente obter, através de sua intercessão, as graças que Vos pedimos.

O que é o Purgatório?

A fé nos ensina que o purgatório, como a palavra indica, é um lugar de sofrimento e de expiação, onde a justiça divina termina de purificar as almas dos fiéis que não são suficientemente culpadas para serem precipitadas no fogo eterno, nem suficientemente puras para serem admitidas no céu. Não é o Paraíso, onde nenhuma mancha pode penetrar; também não é o inferno, onde não pode haver redenção; é um lugar intermediário entre as alegrias infinitas do céu e as infinitas dores do inferno. É semelhante ao inferno pelo rigor dos suplícios, e semelhante ao céu pela santidade dos que aí padecem. É uma prisão, mas que não é eterna; é um fogo devorador, mas que purifica; é um tempo de lágrimas, mas não é o lugar de choro e ranger de dentes de que falam as escrituras. Quando o tempo de purificação termina, quando Deus não tem mais o que cobrar de seus devedores libertados pelo sofrimento, Ele os chamará para perto de Si, para fazê-los partilhar de sua própria felicidade. O purgatório é, portanto, uma pena temporária, e não existirá mais após o juízo final. Alguns doutores pensam que ele está situado no centro da terra, muito próximo do inferno, quase como um apêndice. Eles o chamam de lugar inferior, poço profundo, terra de misérias e de trevas.

Tal é o purgatório. Pois bem, é lá que sofrem e gemem a maioria das almas que terminaram sua peregrinação aqui na terra. Pois a entrada imediata no Paraíso é privilégio de apenas um pequeno número, dizem os teólogos. É lá, portanto, que estão provavelmente nosso parentes, benfeitores e amigos cuja perda ainda sentimos. É lá que nós mesmos, cara alma cristã, estaremos provavelmente um dia! Talvez muito em breve! Ah, quem imagina morrer suficientemente puro de modo a não ter nada a expiar? Cabe a nós, portanto, conhecer bem o estado dessas pobres almas, para compadecer-nos de suas dores, e merecermos suas preces de alivio quando for chegada a nossa vez!

Por que o Purgatório?

Quando uma alma aparece diante do soberano Juiz, se ela se encontra sem mancha, Jesus lhe abre as portas do céu e lhe dá a coroa prometida aos vencedores. Pelo contrário, se é reconhecida culpada de um só pecado mortal, a sentença de sua condenação eterna é pronunciada no mesmo instante. Mas o que acontecerá com as almas que têm apenas algumas manchas de pecado? Para onde irão? Que será das almas que não são tão puras para subir ao céu, nem tão culpadas para descer ao inferno? Serão elas privadas para sempre de ver a Deus face a face? Ó! Bendito seja o Senhor que encontrou um meio de conciliar sua justiça e sua misericórdia ao colocar o purgatório como um marco entre o céu e o inferno. Lá, essas almas se purificam como o ouro no cadinho. Lá, apagam-se a ferrugem e os traços do pecado. Assim Tertuliano, fazendo alusão aos sofrimentos que lá se suportam, os chama de tormentos da misericórdia, tormenta misericordiæ.

Considerai, portanto, cara alma cristã, que o purgatório tem sua razão de ser. Sim, ele é necessário para completar a penitência que não foi feita neste mundo, para satisfazer à justiça divina, e para merecer pela expiação um peso imenso de glória. É uma invenção da bondade do Salvador, que poderíamos chamar de oitavo sacramento, o sacramento do fogo, para as almas às quais os sete sacramentos verdadeiros não foram suficientes para conferir uma pureza perfeita. Glória, portanto, à misericórdia divina que salva pelo purgatório aqueles que amamos, e nos fornece os meios de abreviar seus sofrimentos e de lhes abrir o céu.

Exemplo

Um padre terminou sua homilia sobre o purgatório da seguinte maneira.

Há alguns dias, recebi a triste notícia que um idoso, moldado pela piadade de outros tempos, revestido de todas as virtudes cristãs, veio a falecer. Este senhor é meu pai! Estando longe de minha pátria e de minha família, essa notícia me partiu o coração. Não tive a felicidade de abraçar meu pai pela última vez; não pude fechar-lhe os olhos com minha mão sacerdotal, essa mão que ele tanto amava beijar quando ela recebeu a unção do sacerdócio. Pois bem, na pena que sinto, na dor que me abate, a única consolação que experimento é poder aliviar sua alma pelo sacrifício de Jesus Cristo; é poder recomendá-lo como o recomendo às orações de todos vós, que sois tão bons e tão generosos para comigo. Quando, nesse pensamento, subo ao altar, a fim de oferecer o Santo Sacrifício pelo repouso da alma de meu pai muito amado, parece-me que não o perdi; parece-me que ele me agradece por esse último testemunho de minha piedade filial; parece-me que ele me abençoa ainda tão afetuosamente quanto me abençoava nesta terra; parece-me enfim que minha oração suaviza, abrevia suas penas, liberta-o do Purgatório e lhe abre o Céu, onde ele me espera na casa de Deus. Ó, como é santo e salutar orar pelos mortos! Ó, que invenção da misericórdia de Deus é o purgatório!

Oremos. Meu Deus, eu adoro vossos decretos eternos; confesso que o purgatório, que reconcilia vossa justiça e vossa misericórdia, é uma invenção do vosso Amor. Fazei, Senhor, que eu evite, pela penitência, este lugar de penas e privações, e que minha oração obtenha de vossa indulgência paternal o fim do exílio dessas almas sofredoras que vos clamam com tantto ardor. Ó Jesus, lhes sejais propício! Senhor, chamai vossos filhos, nossos irmãos, ao repouso eterno. Que a luz que nunca se apaga brilhe sobre eles! Que descansem em paz!

Orações

Em seguida, reze cada dia: